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Tuesday, October 25, 2011

Exclusivo: desvendamos o novo Alfa Romeo 4C

Escrito por Heymar Lopes Nunes

Desempenho de BMW M3, tamanho de Lotus Elise, preço de Porsche Cayman, pesando apenas 850 kg... e absolutamente lindo. Conhecemos o 4C com exclusividade na sede da Fiat, bem como os homens por trás do projeto.


Estamos dentro uma área decadente do complexo da deficitária fábrica da Fiat em Mirafiori. Cabos descem pendurados do teto de metal como espaguete, compondo a paisagem com peças de máquinas abandonadas. Não há nenhum glamour aqui. O almoço são pedaços de pizzas, cujas embalagens agora estão no chão, junto da poeira e dos resíduos. Poderíamos estar sentados num restaurante citado no Guia Michelin, daqueles que exigem terno e sapato. O garçom chegaria, colocaria seu prato embaixo de seu nariz e quando ele fosse revelado, não passaria de uma minúscula porção de alguma coisa, totalmente diferente do que você esperava.

Um caminhão totalmente branco adentra o galpão trazendo uma carga de valor inestimável que vai sendo revelada à medida que a porta traseira vai se abrindo. Como se fosse o garçom retirando a tampa de seu prato, ele é impecavelmente apresentado. Mas onde está o resto? O 4C é fino, compacto, tem menos de 4 m de comprimento e apenas 2,4 m entre as rodas, proporções muito parecidas às do Lotus Elise do que de um Evora. Ele está entre seus preços também. O Alfa de R$ 100 mil (na Europa) é R$ 25 mil mais barato que um Evora e na mesma medida, mais caro que um Elise. Tem praticamente o mesmo preço de um Porsche Cayman 2.7. Porém, o maior preço a pagar é a espera até o fim de 2012, quando o 4C será lançado.

O preço exato do carro e outros detalhes cruciais estão sendo discutidos em Turim no mesmo dia em que a reportagem da CAR está na cidade. Os figurões da Fiat estão se esforçando para que nada dê errado com o carro que pretende resgatar a marca Alfa Romeo no mercado norte-americano, que vem sendo preparado com alguns 8C coupés e spyders - as primeiras importações oficiais da Alfa desde 1995 - mas o 4C vai manter a chama acesa até a chegada do Mito, Giulietta e do Giulia. Apesar de a Alfa estar planejando vendas de 1.500 4C por ano, uns 300 cruzarão o Atlântico para avaliar se a estratégia da empresa dirigida por Sergio Marchionne vai realmente se mostrar correta. Ele fala em 500 mil unidades até 2014, meta bem superior as 112 mil de 2010. O 4C será montado junto de um novo Maserati compacto nas antigas instalações da Bertone em Grugliasco, utilizando chassis em fibra de carbono fornecidos pela fabricante de carros de corrida Dallara.

Esperamos que nessa discussão que ocorre na cidade esteja incluída esta incrível pintura nos carros de produção, pois ela é simplesmente 4 sensacional neste ‘showcar’. Assim como a pintura ChromaFlair camaleão que faz a superfície do 4C parecer-se com um veludo vermelho sombreado que se transforma de acordo com a luz, refletindo milhões de pigmentos dourados, que fazem com que seus olhos não deixem nenhum detalhe de suas curvas passar despercebido.

“Estávamos convencidos de não pintá-lo nesse vermelho cereja”, disse o chefe de design Lorenzo Ramaciotti. “Pensávamos em outras coisas até que alguém sugeriu essa cor, que foi recusada! Depois recebemos o sinal verde para ela”.

Infelizmente para o pessoal de Ramaciotti, uma grande luz sobre o carro no Salão de Genebra acabou com o efeito, deixando-o mais parecido com um filé de salmão do que com um carro esportivo de fibra de carbono com relação peso x potência de um Audi R8. Apenas agora com luz natural e sombra nessa fábrica abandonada, onde os raios de sol entram através de frestas e buracos desse teto da metade do século passado é que podem ser reveladas as linhas do carro que a Alfa mais aposta. O entusiasmo do designer Alessandro Maccolini é marcante: “Esta é a primeira vez que vejo este carro num ambiente natural”, ele fala com os olhos arregalados, iguais aos de uma criança de oito anos ao ver seu primeiro Lamborghini.

Quando perguntei sobre os motivos que levaram a companhia a fazer todo o trabalho de estilo e design dentro da empresa em detrimento de fornecedores externos – como sempre aconteceu na Alfa – Ramaciotti foi enfático: “Nada tem a ver com custos, mas sim com o design, um patrimônio muito valioso para ficar nas mãos de terceiros”.

Aston Martin, Lotus, todos eles fazem seu design ‘em casa’. Baseado nisso, quem precisaria da Pininfarina? Aí é que entra o novo Centro Stile da Alfa – que mistura estilos de seus ícones antigos, como o 33 Stradale de 1967 com as tendências modernas, não deixando o passado sem menção. E essas menções são tão sutis, que mesmo que você nunca tenha visto um Stradale, percebe que ele deve ter sido um maravilhoso esportivo em sua época. Mas a grande questão é se aquilo que você vê é aquilo que você terá.

“Tudo num conceito deve ser possível”, diz Maccolini, com seus 14 anos de Alfa, com participação no 147, 156 Sportswagon e na Giulietta. Incluindo materiais. Sendo um carro de exposição, este aqui é feito em fibra de vidro, mas espere por muita fibra de carbono e materiais compostos no modelo final. Sim, fibra de carbono. Há cinco anos um chassi em fibra de carbono só poderia ser pensado em supercarros, mas assim como o BMW i3, o 4C é uma nova gama de carros acessíveis (ou próximos disso) que tirarão vantagem do baixo peso e alta resistência desse material. No 4C algumas chapas externas da carroceria serão feitas com ela também.

“Ainda estamos estudando os materiais que utilizaremos”, afirma Ramaciotti, que foi resgatado da aposentadoria em 2007 por Marchionne para dirigir o design da Fiat. “Talvez toda a frente seja feita em peça única de carbono”, sugere. O quê? Uma peça única em fibra de carbono? Imagine o preço para reparar uma batida no estacionamento. “Tudo tem o lado bom e o ruim”, Ramaciotti responde. “Uma frente feita em várias peças requer vários pontos de fixação, que se transformam em peso”.

Ah sim, o peso. A Alfa falava em 850 kg em Genebra, mas é uma tarefa difícil, afinal, um X-Bow da KTM pesa 700 kg e não tem teto, portas, vidros, som, airbags... “Os engenheiros têm o número 850 escrito nas paredes”, ele ri. “Mas se a versão final ficar nos 900 kg, acredito que eles poderão ficar felizes”.

Existem outras opiniões na Alfa que acham que 850 kg são plenamente atingíveis. A ideia de um carro bonito como este, que pese um pouco mais que um Elise, mas que tenha um motor de 232 cv atrás dos bancos é muito boa. Seria um verdadeiro carro dos nossos tempos, sem um V6, mas sim um 4 cil. 1.8 l turbo oriundo do Giulietta Quadrifoglio. Equipado com a esplêndida tecnologia Fiat Multiair, ele seria capaz de marcas próximas aos 17 km/l, mesmo com uma relação peso x potência semelhante à de um Porsche Carrera 911, com 60% de sua massa alojada na frente do eixo traseiro. A Alfa estima em menos de 5 s para chegar aos 100 km/h. Procuro pela maçaneta da porta, mas não a vejo. Penso que ela pode estar escondida numa das entradas de ar, como no Stradale. “Ela ainda será pensada antes da produção”, me consola Ramaciotti, apertando um botão que abre a porta.

Infelizmente os lindos espelhos em formato asa não deverão permanecer na versão final de produção, assim como a iluminação dianteira, traseira e a seção preta na parte inferior traseira, mas o motor definitivamente ficará à mostra, ou pelo menos sua cobertura plástica.

A soleira é enorme e dificulta um pouco o acesso. O espaço é correto: confortável e com espaço suficiente para ombros e cabeças. O compartimento atrás dos bancos serve para pequenas bagagens ou para acomodar um futuro sistema de capota conversível que poderá vir na sequência.

“Isso é conversa para outro dia”, diz Ramaciotti com um sorriso, antes de nos mostrar a área da coluna B, onde ficaria normalmente a proteção ao capotamento. “Você percebe que o carro permite este tipo de desenvolvimento”, comenta.

A frente carrega vários radiadores, portanto, o espaço para bagagem é limitado a um pequeno porta-malas na traseira, que Ramaciotti se refere como “bagagem de cabine”, imaginando que o cliente deste carro normalmente não carrega muita bagagem.

O interior não vem com detalhes inspirados nos equipamentos aeronáuticos. Na verdade, percebe-se mais uma atmosfera de motocicleta no formato redondo do velocímetro e conta-giros, acompanhado do painel de LCD. Trata-se de um carro egoísta, um carro para motoristas, portanto, o GPS deverá fazer parte do LCD, diferente do Giulietta, onde a tela do navegador aparece no centro do painel. Assim, os designers da Alfa puderam desenhar um painel fino e despojado. Esperemos que a tela transmita imagens de uma câmera de ré, pois a visão traseira é muito comprometida, principalmente sobre o ombro, assim como no Lotus e até pior que num Porsche Cayman. O puxador da porta em couro lembra o do Porsche 911 RS. Espere por um volante ovalado e muito alumínio no interior.

Mas uma coisa está faltando neste ‘showcar’, exatamente porque não haverá no carro de produção: o pedal da embreagem, já que o câmbio será o TCT de seis marchas e dupla embreagem já disponível no Mito e chegando no Giulietta. Deixando a opção manual de lado há a vantagem de maior eficiência e menor espaço utilizado, além do que os clientes desse tipo de carro esperam sempre soluções modernas. O sistema DNA da Alfa controlará o mapa da direção eletroassistida, resposta do acelerador e a tolerância do controle de estabilidade e também o câmbio.

Os freios virão do Giulietta, assim como as estruturas de sub-chassi de alumínio – versão Alfa para triângulos duplos – na frente e MacPherson na traseira, mas a apresentação de um ‘showcar’ dentro de um galpão não mostra muito do que será o produto final. Claro que não esperamos supercarros da Alfa, apesar de que o Giulietta é um carro fantástico, estável, de ótimo desempenho e frugal. Porém, carros como o Mito e o Giulietta Quadrifoglio (que em breve será rebatizado de Quadrifoglio Verde), além é claro, do 8C, ainda ficam devendo um pouco em relação a seus concorrentes.

Se a Alfa caprichar no pacote dinâmico, não há razão para que o 4C não seja uma sensação absoluta, assim como seu estilo sugere. Alguns carros acabam carregando um pesado fardo de má fama e a Alfa não escapa de ter a reputação de construir carros mau acabados, de pouca durabilidade e com serviços pós-venda complicados. Só a própria Alfa pode acabar com isso. Para tanto, começou uma profunda reformulação de sua rede de concessionários há cinco anos, ao mesmo tempo em que começava a construir carros que se comparam aos alemães em termos de acabamento e beleza. Em algumas pesquisas recentes do JD Power, a Alfa empatou com a VW em 10º lugar, um pouco atrás de BMW, Audi e Volvo e acima de Nissan, Mazda, Peugeot, Citroën, Renault, Ford e Vauxhall (GM inglesa). Há muita coisa boa por vir no mundo Alfa e nada melhor que um esportivo de impacto para injetar esperança e confiança na marca e resgatar seus fieis clientes ao redor do mundo. O 4C tem tudo para ser esse carro.



QUEM É DALLARA?

Gian Paolo Dallara, o homem cujos chassis de fibra de carbono servirão de base no 4C, ganhou fama como o responsável pelo chassi do Lamborghini Miura. Depois ele invadiu o design com o Espada, antes de voltar-se para o automobilismo.

Na Dallara Automobili ele se concentrou em veículos de competição, dominando primeiramente a Fórmula 3, passando rapidamente pela F1 com a BMS Scuderia Itália nos anos 80, até vencer na Fórmula Indy. Ele retornaria à F1 em 2010 como fornecedor de chassi para a Hispania, parceria que terminou prematuramente face aos problemas financeiros da equipe.

Além das atividades no automobilismo, a Dallara também atua no mercado automotivo, desenhando e construindo o chassi do KTM X-Bow além de prestar consultoria para o chassi, suspensão e aerodinâmica do Bugatti Veyron.



Técnica

Adotando completamente a moda do downsizing, o 4C ganhou turbina e injeção direta no motor 1750 Tbi do hothatch Giulietta, montado transversalmente atrás dos bancos. Ele produz 232 cv e 34,7 kgfm no hatch, o que deve ser bom o suficiente para 4,5 s para ir de 0 a 100 km/h e registrar máxima de 265 km/h com seus 850 kg. O câmbio TCT homologado para 35,6 kgfm significa que não deverá haver grandes modificações no motor.



FICHA TÉCNICA

à venda: Final de 2012 (na Europa)

Motor: 4 cil. Turbo 1.742 cc 16V, 232 cv @ 5.500 rpm,

34,7 kgfm @ 1.900 rpm

Transmissão: Seis marchas embreagem dupla, tração traseira

Suspensão: Estrutura estilo triângulos duplos dianteira, MacPherson traseira

Peso/material: 850 kg/fibra de carbono, alumínio, plástico 

Compr./larg./alt.: 4.000/1.800/1.250mm 

Desempenho: 0 a 100 km/h 4,8 s, 250 km/h, 160g CO2/km, 17 km/l (valores estimados)



Fonte: carmagazine

Disponível no(a):http://carmagazine.uol.com.br

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